O renascer da Harmonia-Lyra, um símbolo de Joinville

A Harmonia-Lyra é um símbolo da cultura de Joinville desde seus primeiros tempos. Fundada em 1858 como Harmonie-Gesellschaft, ela era, a princípio, um espaço destinado às artes dramáticas. Até que, em 1899, se uniu à Musikverein Lyra, e abriu, definitivamente, espaço para a música em seus palcos. Ao longo dos seus 157 anos de atividades, ela foi palco das mais expressivas manifestações artísticas e culturais, e de bailes e festas que marcaram a segunda metade do século 19 e o século 20 na cidade. Ao redor de suas mesas sentavam-se as personalidades determinantes para a construção de Joinville e muitas das instituições que chegaram aos nossos dias foram idealizadas por seus sócios, provavelmente nas rotineiras e intermináveis conversas informais no local. Eventos que chegaram fortes no século 21, também começaram entre suas paredes, como a Festa das Flores e o Festival de Dança de Joinville. “Era um centro de reuniões e decisões sobre a vida da cidade”, destaca o presidente da Harmonia-Lyra, Álvaro Cauduro, revelando que instituições como a Associação Empresarial de Joinville (Acij) e os Bombeiros Voluntários são algumas das que começaram a ser delineadas no local.

Nas últimas décadas, porém, a Harmonia-Lyra vivia tempos de esquecimento. Os grandes concertos e peças de teatro saíram de cartaz, o número de sócios foi reduzido gradativamente e o espaço passou a ser mantido basicamente pelo aluguel a – poucos – eventos sociais particulares. Lutava com dificuldades para manter o prédio inaugurado em 1930 e que é um dos cartões-postais de Joinville. Uma realidade triste, mas que começou a mudar em 2014 e tem tudo para ser uma página virada na longa trajetória da Lyra. Liderada pelo advogado Álvaro Cauduro e tendo em seus quadros nomes como o do barítono Douglas Hahn (diretor artístico), uma nova gestão assumiu com a proposta de executar um projeto de renascimento – e uma nova Harmonia-Lyra, revigorada, voltou a fazer parte da cena cultural da cidade.

"Era um centro de reuniões e decisões sobre a vida da cidade"

O projeto de renascimento da Harmonia-Lyra tem como base o resgate da identidade da associação, que historicamente foi pautada pelas atividades culturais e sociais. Álvaro Cauduro explica que a fórmula colocada em prática pelo primeiro diretor-artístico da entidade, Ottokar Doerffel, que desde o início deu o tom dos trabalhos, ao lado do presidente e fundador Eduardo Trinks, era baseada nestes dois eixos e assegurava o sustento da sociedade. Uma fórmula que deu certo durante décadas. “Ela nasceu com o espírito cultural. Mas logo percebeu que o patrocínio cultural é difícil. Foi criado, então, um formato: um evento cultural, um jantar e um baile. O jantar e o baile patrocinavam a arte. Cultura e social… um equilibrando o outro”, analisa.

A revitalização começou em 2013, ainda na gestão anterior. Álvaro Cauduro lembra que, na época, a Fundação Cultural de Joinville estava montando a Orquestra da Cidade e solicitou um espaço para fazer um ensaio, uma apresentação. “Cedemos o espaço gratuitamente e a Orquestra da Cidade começou a ensaiar aqui. Depois veio a Orquestra Jovem, o coral da orquestra, as oficinas de música…”, relata. E a música voltou a inundar os ambientes da Harmonia-Lyra. Em julho de 2014, foi realizada a “Noite das Artes”, uma homenagem à professora de balé Liselotte Trinks, que ensinou gerações de jovens joinvilenses a dançar. No evento, o piano de Liselotte foi entregue restaurado, assim como o quadro “A Rainha e o Pavão”, de Hugo Calgan, de 1882. No segundo semestre, o projeto “Interlúdio – Música de Câmara ao Anoitecer”, foi realizado a cada mês na Sala Mozart, resgatando uma tradição da sociedade: a música acústica, sem amplificadores nem para voz, nem para os instrumentos.

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O barítono Douglas Hahn com as sopranos Alicia Cupani e Masami Ganev, e o pianista Matheus Alborghetti na Gala Lírica. Crédito: Jaksson Zanco/Secom/Divulgação

Mas se alguém ainda tinha dúvidas de que o renascimento cultural da Harmonia-Lyra veio para ficar, o “Natal da Hamonia”, em dezembro de 2014, as dissipou. Na sacada do prédio histórico, o espetáculo Gala Lírica reuniu o coral da Orquestra de Joinville, a Banda Sinfônica do Corpo dos Bombeiros, o barítono Douglas Hahn, as sopranos Alicia Cupani e Masami Ganev, e o pianista Matheus Alborghetti. Um espetáculo voltado para a rua, para o público, gratuito, que reuniu mais de duas mil pessoas na rua 15 de Novembro, em cada uma das duas apresentações.

Atualmente, entre ensaios, aulas e apresentações, há atividades praticamente todos os dias na Harmonia-Lyra. Porém, ainda há muitos desafios pela frente. De acordo com o diretor-artístico Douglas Hahn, a meta é implantar uma gestão profissional na área artística, a exemplo do que já ocorre em grandes instituições, como a Orquestra de São Paulo, por exemplo. Já na área social, a intenção é buscar novos sócios e recuperar os antigos, que deixaram a entidade ao longo dos anos. E, principalmente, trazer os jovens para dentro da casa. “A Lyra perdeu três gerações. É quem hoje tem cinquenta, quarenta, trinta anos”, explica Álvaro Cauduro, que sonha em entregar a gestão da Lyra, daqui a alguns anos, para um novo presidente mais jovem. “Que tenha 40 anos de idade”, brinca, ilustrando o desejo de renovação.

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