Convênio com a Celesc possibilitou mais sustentabilidade à corporação
Criado em 27 de julho de 1892 por um grupo de pessoas dispostas a doar um pouco de si para ajudar a sociedade em que viviam, o Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville é uma das instituições mais queridas da cidade e faz parte da história de muitas famílias joinvilenses. Mas ao longo de 124 anos de atuação, a instituição, que é modelo inclusive para outros países, enfrentou muitas dificuldades para manter as atividades e continuar tecnologicamente atualizada. Nessas horas, porém, a população de Joinville veio em seu socorro e colaborou.
Um desses momentos cruciais foi no início dos anos 1990. Às vésperas de completar o centenário, o Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville vivia uma situação crítica. Com dívidas, equipamentos obsoletos e receita insuficiente, a instituição lutava para sobreviver.
A fonte de receita dos Bombeiros Voluntários eram as doações de pessoas físicas e jurídicas, e uma pequena contribuição do Estado, mas o volume arrecadado era pouco para o muito que precisava ser feito. Para se ter uma ideia de como isso ocorria, na época, a corporação contava com cerca de 850 contribuintes e o recolhimento das doações era feito por um cobrador, de bicicleta, de porta em porta.
Era preciso mudar para garantir a sobrevivência, a permanência. Essa mudança começou em 1991, um ano antes do centenário. Na época, o empresário José Henrique Carneiro de Loyola assumiu a presidência do Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville, se deparou com a situação crítica e constatou que o principal desafio da corporação naquele momento era aumentar a arrecadação. Mais que isso, era preciso garantir a sustentabilidade financeira dela, o que possibilitaria a reestruturação tecnológica, a ampliação dos serviços e a continuidade da instituição centenária. Ele apostou em uma ideia inovadora que deu supercerto e acabou se tornando modelo até hoje para outras instituições que sobrevivem da ajuda da comunidade: a doação via conta de luz.
Loyola vislumbrou a possibilidade de usar a logística da Celesc, uma empresa estatal, com acesso a todas as residências para facilitar as contribuições – algo que hoje é comum, mas na época foi uma novidade. Com isso, mediante adesão do responsável pela residência, as contribuições com valores fixos eram debitadas automaticamente na conta de luz e depois eram repassadas para o corpo de Bombeiros. Os valores eram pequenos, mas constantes, o que fez uma grande diferença - e ainda hoje faz - para a sobrevivência e permanência da corporação.
Os bombeiros sempre tiveram sócios - e esta sempre foi uma das principais fontes de arrecadação da instituição. No início das atividades, por exemplo, quem quisesse ser bombeiro tinha que se associar e pagar uma mensalidade. Ou seja, pagar para ser bombeiro voluntário.
Essa tradição perdurou ao longo do século 20. O ex-comandante Valmor Maliceski conta nos anos 1980 para ir no tradicional Baile dos Bombeiros, um evento anual, que marcava o aniversário da instituição, era preciso ser sócio. “Fiquei sócio na porta do salão de baile”, recorda ele, que se tornou voluntário em 1987, mas pelo menos três ou quatro anos antes disso já era sócio contribuinte. Ele lembra que, em um período, a empresa onde trabalhava, a Meister, chegou a fazer uma campanha interna para angariar mais associados.
As iniciativas, porém, eram insuficientes para garantir a sustentabilidade da corporação e a cobrança era difícil. O convênio com a Celesc surgiu como uma forma eficaz de reverter isso. A empresa estatal emitia 110 mil contas de luz a cada mês na cidade e o valor doado poderia ser debitado automaticamente, o que facilitava a logística de arrecadação e o processo tanto para os contribuintes quanto para a corporação.
O convênio foi assinado em 13 de dezembro de 1995 pelo então presidente dos bombeiros, José Henrique Carneiro de Loyola e o então presidente da Celesc, Paulo Tatim. A estatal ficava com 5% do arrecadado para cobrir despesas operacionais e o restante era repassado para a corporação.
Campanha de porta em porta
Para estimular a adesão, o subcomandante Ademar Stuewe, que por mais de 40 anos (até seu falecimento, em janeiro de 2015) atuou na corporação, iniciou uma campanha junto à população. Valmor Maliceski recorda que bombeiros voluntários, fardados e com uma carta de apresentação, iam de casa em casa, por toda a cidade, explicando o convênio e solicitando a participação. O titular da conta assinava a autorização, a residência ganhava um adesivo para identificá-la, e o cadastro era feito manualmente na sede dos bombeiros. Com isso, o número de adesões cresceu e a receita da corporação também. “De 1994, 95,96 aumentou muito. Passamos a ter 1.500 colaboradores e depois, com a campanha do Ademar, chegamos a 15, 20 mil colaboradores com débito em conta de luz. Esse débito em conta tornou a cobrança mais fácil. Fomos procurando migrar tudo para o débito em conta porque é um recurso garantido, que é descontado” explica Maliceski, que foi comandante dos bombeiros de 1998 a 2008. O número de sócios com contribuições mensais passou para 34 mil no final dos anos 1990 e depois diminuiu com o tempo.
A ideia do convênio foi adotada em outros Estados, empresas e instituições. Hoje, o Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville conta com mais de 22 mil contribuintes nesse sistema, um número considerado pequeno para a quantidade de residências em Joinville, que é de cerca de 300 mil “É pouca gente ajudando muito. As pessoas que contribuem são muito fiéis. Temos gente com mais de 40 anos de contribuição e cada ajuda é bem vinda”, revela Matheus Cadorim, Diretor Executivo da corporação. Os valores são pequenos, mas constantes – uma média de R$ 10,00 por residência. “Para nós, cada R$ 10,00 vale muito”, afirma, ressaltando que uma pesquisa recente sobre segurança pública realizada pela Furb, de Blumenau, apontou que o índice de aprovação da comunidade aos bombeiros voluntários era de 96,7% - praticamente uma unanimidade.
A foto que ilustra este texto mostra a atual sede do Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville. Crédito: Acervo CBVJ
Gostou do texto? Caso queira compartilhá-lo, lembre-se sempre de citar a fonte e dar o crédito ao autor: Maria Cristina Dias.
E para receber histórias como essa direto no seu e-mail e não perder mais nenhum post, clique aqui, vá até o final da página e cadastre-se no site.
Comente logado pelo Facebook (Ou se preferir, use a Caixa de Comentários do final da página)