Líder empresarial catarinense desafiou o destino, abriu o próprio caminho e se especializou em superar desafios
Quando nasceu, José Henrique Carneiro de Loyola parecia já ter um destino certo. Filho de uma família já – muito bem – estabelecida em Joinville, ele cresceu em um mundo farto e tinha tudo para ingressar em uma das empresas do grupo do avô, Henrique Douat, dar continuidade a algum de seus muitos negócios e usufruir uma condição de vida previamente desenhada. Mas ele ousou ser diferente e abrir o próprio caminho. Começou como estagiário em um banco, entrou na Fabril Lepper por meio de um anúncio de jornal, reergueu a empresa que estava à beira da insolvência e, ao longo de décadas de trabalho, se firmou como líder empresarial do Estado, com forte presença nas áreas social e política da região, incluindo as presidências da Acij, do Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville e da Sociesc; e a atuação como secretário Estadual da Indústria, Comércio e Turismo, no governo de Pedro Ivo Campos; vice-prefeito de Joinville e Senador da República.
Ao nascer, em 12 de outubro de 1932, José Henrique Carneiro de Loyola era a continuidade de famílias antigas e de influência no Paraná e em Santa Catarina. Os Carneiro e os Loyola, por parte do pai, o deputado federal Lauro Carneiro de Loyola; e os Douat, por parte da mãe, Regina Douat Loyola.
No Paraná, o avô paterno, José Guilherme de Loyola, era médico e foi deputado estadual e líder político influente e professor da Universidade Federal do Paraná. Os Loyola são descendentes de espanhóis e José Henrique de Loyola sempre conta que em uma viagem à Espanha visitou o Santuário de Loyola, em uma cidadezinha do País Basco. Ao se apresentar e dizer seu nome, um religioso do local buscou um livro preto, com a árvore genealógica dos Loyola e revelou que havia ramificações da família na América do Sul. Ao chegar ao Brasil, Henrique de Loyola buscou os registros dos antepassados em Paranaguá (PR), montou a árvore genealógica da família no Brasil e enviou para o santuário. Tempos depois, ao voltar ao templo espanhol com o irmão, se surpreendeu quando outro religioso mostrou a carta que ele havia enviado com a genealogia dos Loyola no Brasil.
Já a avó, Maria Augusta Carneiro, era filha do ervateiro David Antonio Carneiro e pertencia à tradicional sociedade paranaense. Em seu livro “O Silêncio dos Vencedores”, o sociólogo Ricardo Costa de Oliveira revela que a firma David Carneiro & Cia, fundada em 1894, estava, no início do século 20, na 75ª posição na ordem relativa de produção no Brasil.
Os Douat, por parte de mãe, também começaram a sua trajetória no Brasil no Paraná, na segunda metade do século 19, quando o engenheiro Etienne Douat, seu bisavô, formado em Paris e vindo de tradicional família de Chateau Margaux, na região de Bordeaux, veio participar da participar da construção da Ferrovia Curitiba/Paranaguá. Em 1874, Etienne Douat rumou para Joinville (SC), onde assumiu a construção de uma das obras fundamentais para o desenvolvimento da região: a Estrada Dona Francisca. E, embora pouco se fale sobre isso, esteve presente na origem do projeto de geração de energia elétrica para a região a partir do aproveitamento das águas do Piraí, no início do século 20, e chegou e ganhar a concessão para exploração do serviço. Um acidente, porém, prejudicou a sua saúde e ele repassou os direitos ao empresário Domingos da Nova, que se associou a outros dois empreendedores (Alexandre Schlemm e Olímpio de Oliveira) para fundar a Empresa Joinvilense de Eletricidade, que efetivamente implantou o serviço.
Henrique Douat, filho de Etienne e avô materno de José Henrique Carneiro de Loyola, atuava nas áreas de erva-mate e madeira, seguros e representações, e era uma das grandes fortunas da região na primeira metade do século 20.
O pai de Henrique Loyola, Lauro Carneiro de Loyola foi bancário e desportista, e diretor das empresas Douat. Em 1955 assumiu como deputado federal e em três legislaturas contribuiu para implantação de infraestrutura na região – algo fundamental para suportar a industrialização maciça de Joinville na segunda metade do século 20.
Loyola nasceu exatamente no casarão que fica na esquina da avenida JK com rua Padre Carlos e que ainda hoje está no local (até há pouco tempo ali funcionava a loja Masotti). Mais velho de sete irmãos, parecia já estar com a vida ganha. Mas, como ele mesmo sempre diz com o bom humor que lhe é peculiar, “pai rico, filho nobre, neto pobre”. E ele era justamente da terceira geração da família, a geração do “neto pobre”. Exageros à parte, embora não fosse exatamente pobre, ao chegar à idade adulta percebeu que tinha que buscar o seu próprio caminho.
Assim, em 1955 começou a trabalhar como auxiliar de cobrança no Banco de Crédito Real de Minas Gerais, colocando a mão na massa, e aprendendo coisas que seriam fundamentais para a sua vida futura. Esses aprendizados não demoraram a render resultados. Em 1956, foi fazer um estágio no Banco Comercial do Paraná (Bancial). Logo no primeiro dia, ao observar um funcionário reparou que o banco estava deixando de fazer um recolhimento de tributos – um erro grave, com sérias implicações para a instituição. “Estava na sala do gerente, na agência do Portão, em Curitiba, e vi um funcionário escrevendo à máquina. Curioso, perguntei do que se tratava e soube que ele estava creditando a comissão do banco correspondente. Quis saber se ele selava o aviso. Negou, dizendo que não era necessário. Mas essa atividade já fizera parte de minha rotina no primeiro banco em que trabalhei. Existia uma lei, na época, que dizia que todo aviso superior a vinte moedas estava sujeito à selagem de Cr$ 2,50 por aviso. A selagem era um imposto equivalente à Cofins ou ao PIS de hoje, e o seu recolhimento era tão burocrático que nem mesmo a matriz, que acabara de ser fiscalizada, percebera que o banco, em todas as suas agências, estava deixando de arrecadá-lo nesses avisos. Foi a primeira vez que percebi a importância de colocar a mão na massa para conhecer como as coisas funcionam”, relembra ele, no livro “Henrique Loyola – Colecionador de Desafios”, em que conta a sua trajetória.
Ao apontar o engano, viu a sua carreira ser alavancada. Com apenas 24 anos, foi promovido a gerente da agência de Joinville – talvez o mais jovem da instituição.
Mas ele era empreendedor e sonhava com o negócio próprio. E em 1958 assumiu o controle da firma Comércio e Representações Douat e empenhou-se na diversificação das representações que já tinha, incluindo novas empresas como Wallig, Heliogás, Semmer, Cimento Itajaí, DKW Vemag e Maferro. Na época, fogão a gás era uma novidade no país e a empresa conseguiu a representação dos fogões Wallig e depois Semmer – e em pouco tempo já detinha cerca de 80% do mercado. As conquistas foram muitas, mas houve divergências na questão acionária e Loyola decidiu sair da sociedade e buscar novos caminhos. Foi para Brasília, a nova capital da República, com representações de produtos como os leques e os canos e conexões em PVC, da Cia Hansen, que seria a Tigre – uma novidade na época.
O mercado era promissor, os negócios também. Mas a família havia ficado em Joinville e, já com a segunda filha a caminho, não pretendia sair daqui. Era hora de mudar novamente o rumo profissional e voltar.
Foto: Henrique Loyola, em seu escritório na Fabril Lepper. Divulgação
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Obrigado pela história que narra carreira meteórica de um ilustre empresário joinvillense.-Desconhecia a ligação familiar dos Loyola com as dos Dout.-Parabens pela narrativa que, com certeza, não deixa de ser um marco histórico na evolução econômica do município de Joinville.-