No dia 9 de março de 1851, um grupo de imigrantes alemães chegou na barca Colon e desembarcou às margens do rio Cachoeira, em meio à mata virgem, para construir a Colônia Dona Francisca, nas terras que integravam o dote da princesa Francisca Carolina ao casar com o príncipe de Joinville, François Ferdinand Phillipe Louis Marie – e dar início à história de Joinville.
Embora pareça resumir a história da fundação de Joinville e contenha informações muito difundidas ao longo do tempo, a frase acima contém algumas passagens repetidas ainda hoje e que sempre merecem ser um pouco mais esclarecidas. E essa é a nossa proposta para marcar estes 164 (completados em 2015) anos da cidade: buscar na bibliografia sobre Joinville informações para deixar um pouco mais precisa a nossa história.
No destaque, ilustração de 1850 publicada no Ilustriete Zeitung, na Alemanha, em 1851, representando a Colônia Dona Francisca. Reprodução do livro “História de Joinville – Crônicas da Colônia Dona Francisca
- Os imigrantes chegaram em 9 de março de 1851 – A data em que comemoramos o aniversário de Joinville é o marco oficial da fundação, quando terminou o desembarque da primeira leva de imigrantes. Mas não exatamente o dia da chegada dos primeiros colonos. Carlos Ficker, em seu livro “História de Joinville – Crônicas da Colônia Dona Francisca” revela que isto ocorreu no dia anterior. “Nesse mesmo dia 8, os primeiros imigrantes pisaram o solo da Colônia. No dia seguinte, 9 de março, o desembarque das 118 pessoas – homens, mulheres e crianças – estava concluído”.
Ele explica que durante muitos anos, a data de 9 de março foi ignorada, pois o governo Imperial considerava o dia seguinte, 10 de março, como a data da fundação da Colônia Agrícola Dona Francisca, pois foi quando começaram efetivamente os trabalhos administrativos. “As próprias estatísticas provinciais de Santa Catarina e os relatórios da presidência da Província mencionam a data de 10 de março como sendo a da fundação. Finalmente, os mapas estatísticos e relatórios da direção da Colônia, que ainda hoje existem em manuscrito, repetem a mesma data: 10 de março”.
- Os primeiros imigrantes eram alemães – Os relatórios de imigração mostram que os 118 passageiros que desembarcaram da barca Colon vinham das regiões da atual Alemanha (o país só foi unificado em 1871), Suíça e Noruega. Em 10 de março de 1851, no primeiro relatório da direção da Colônia, constava a presença de seis pessoas que vieram em 1850 para preparar a área para receber os colonos; 118 passageiros da barca Colon; e um grupo de noruegueses, cuja data de chegada e informações não são precisas – a grande maioria deles não ficou na colônia. “Os 61 noruegueses consideraram a sua estada na colônia só a título provisório e partiram, até fins de 1852, para a América do Norte”, escreveu Ficker.
Também estavam presentes no local Eduard Schroeder, diretor interino da colônia; Leónce Aubé, representante do príncipe de Joinville; e Louis Duvoisin, cozinheiro de Aubé, que também chegaram em 1850 para começar os trabalhos na colônia.
- A Barca Colón chegou na colônia – “Barca” é o nome dado a partir do século 18 ou 19 a veleiros de três mastros, conforme consta em “Navios na Costa – Iconografia Náutica da Costa Catarinense”, de Carlos da Costa Pereira Filho. No caso da barca Colón, era um navio oceânico, de carga, adaptado para transportar passageiros. Ela atracou em 7 de março em São Francisco do Sul e no dia seguinte parou na entrada da Lagoa do Saguaçu, já que a profundidade do local não permitia que prosseguisse viagem. De lá, os imigrantes passaram para canoas pertencentes ao coronel Camacho (de família lusa já estabelecida há tempos na região) e, pelo rio Cachoeira, desembarcaram na colônia.
- Chegaram à mata virgem – A vegetação era densa, mas o local estava longe de ser desabitado. A área inicialmente fazia parte de São Francisco do Sul e famílias brasileiras de origem lusa já estavam radicadas na região desde – pelo menos – o século 18. Elas mantinham suas fazendas com plantações – a mandioca para os engenhos de farinha era um dos principais cultivos – e participavam da vida política e administrativa de São Francisco. Por já estarem estabelecidas aqui, foram fundamentais nestes primeiros tempos do empreendimento colonizador da Sociedade Colonizadora de Hamburgo. A região também abrigava índios como os guaranis ou xoclengues, que transitavam por um território que ia do litoral até as escarpas da serra do mar.
- As terras faziam parte do dote da princesa – Faziam, sim. Mas, o dote da princesa tinha 25 léguas quadradas e era muito maior que a Colônia Dona Francisca. A divisão ocorria assim:
- A Colônia Dona Francisca, era um empreendimento privado da Sociedade Colonizadora de Hamburgo. Ela ocupava uma área de 8 léguas quadradas que abrangiam o que é hoje o centro de Joinville, delimitada pelo rio Cachoeira. Era administrada pela direção da Colônia.
- O Domaine Dona Francisca, que abrangia as terras dotais que ficavam em torno da colônia e que não haviam sido cedidas à Sociedade Colonizadora de Hamburgo. Era administrado pelo representante do príncipe de Joinville.
- O Domaine D’Aumale, que pertencia ao duque de Aumale, irmão do príncipe de Joinville, e que ficava em parte do que é hoje Pirabeiraba.
As terras dotais foram demarcadas em 1846 em áreas pertencentes a São Francisco do Sul e que já contavam com sesmarias pertencentes a famílias lusas radicadas na região. Ao delimitar as terras dotais, estas sesmarias foram observadas e preservadas – e quando isso não foi possível, os proprietários foram indenizados. Com isso, o Domaine Dona Francisca e a Colônia Dona Francisca fazem limite com terras pertencentes às famílias brasileiras de origem lusa.
- Dar início à história de Joinville – Este é, com certeza, o início da Colônia Dona Francisca. Mas se falarmos de Joinville, a história é mais antiga. Para começar, as famílias brasileiras já estavam radicadas no entorno da colônia, com seus usos, costumes e participação na vida administrativa de São Francisco do Sul, a quem estas terras estavam vinculadas. Como já foi escrito anteriormente, índios também transitavam por estas paragens. E se falarmos de habitação, podemos voltar a milhares de anos, com a presença de comunidades nômades que deixaram seus vestígios em sítios arqueológicos espalhados pela região: os sambaquis.
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