O dia 13 de setembro de 1952 marcou o início de uma nova fase na história do desenvolvimento econômico de Joinville e Santa Catarina. Nessa data, foi inaugurada a ligação telefônica entre Joinville e Curitiba, que integrou SC à rede nacional e contribuiu para alavancar a economia catarinense nas décadas seguintes.
No início dos anos 50, a antiga Colônia Dona Francisca comemorava o centenário com uma população de pouco mais de 42 mil habitantes, 325 indústrias e 534 estabelecimentos comerciais, segundo números do Álbum do Centenário de Joinville. A cidade já se firmava como polo industrial do estado, mas a infraestrutura (ou a precariedade dela) era um obstáculo a esse movimento. Havia gargalos nos transportes (tanto rodoviário quanto ferroviário e marítimo), no fornecimento de energia elétrica e, sobretudo, nas comunicações
Para termos uma ideia da situação. Na época, a cidade contava com um serviço de telefonia urbana com ramais, que permitia apenas a realização de ligações locais. Os municípios de Santa Catarina podiam ser conectados por meio da Cia Telephonica Catharinense, mas a comunicação como restante do País era uma aventura, já que o Estado ainda não estava interligado com a rede nacional. Isso dificultava os negócios entre as empresas locais e o restante do Brasil e era tema de discussões na Associação Empresarial de Joinville (Acij), que na época era presidida por Ademar Garcia e tinha como vice Lauro Carneiro de Loyola.
Diretor da H. Douat & Cia, empresa ervateira, diretor da M.Lepper & Cia, madeireira, e diretor da Cia União de Seguros e representante dos Sindicatos das Serrarias, Carpintarias e Tanoarias de Santa Catarina e do Sindicato das Indústrias do Mate, Lauro Carneiro de Loyola era atuante no meio empresarial catarinense – e ao mesmo tempo era de tradicional família paranaense e tinha relacionamento político, amizade e até parentesco com os líderes do estado vizinho, inclusive com o então governador do Paraná, Bento Munhoz da Rocha Neto, que era casado com Flora Carneiro Munhoz da Rocha (parente de Lauro). Com isso, Lauro, assumiu a liderança das negociações para fazer a interligação telefônica entre os dois estados, conforme consta no livro “Carneiro de Loyola – Espaço e Tempo”, do economista Lauro Salvador.
O empresário José Henrique Carneiro de Loyola, filho de Lauro, relata que o pai realizou as tratativas diretamente com o amigo a ligação entre os dois Estados, o que beneficiaria tanto ao Paraná quanto a Santa Catarina. “Meu pai, que era paranaense, tinha uma intimidade caseira com ele. E ele, sim, o governador, colocou em xeque-mate a empresa internacional que operava no Brasil: 'Ou vocês levam a linha até a divisa ou eu dou a autorização para que Santa Catarina venha até a divisa'”, contou em entrevista à jornalista Maria Cristina Dias, referindo-se à operadora nacional de telefonia que chegava até Curitiba e à concessionária privada, da família Ganzo, que atuava em Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Nessa época, o restante do País já estava interligado.
A viabilização física da ligação foi obtida por meio de uma outra rede de relacionamento. Amigo pessoal de Lauro e responsável pela rede ferroviária, o general Machado Lopes cedeu os trilhos velhos da ferrovia Paraná/Santa Catarina (que era do governo federal) para serem usados como postes e, assim, permitir a ligação física entre os dois Estados. “Se você observar, ainda é comum ver eles ao lado da ferrovia. Os postes eram usados na comunicação entre as estações, também por cabo. Em todo o comprimento da linha ferroviária tinha um posteamento, fazendo a comunicação entre as estações. Estes postes já eram trilhos em desuso. Ele doou os trilhos usados”, esclarece Henrique de Loyola.
A inauguração foi realizada no dia 13 de setembro de 1952 na na região da Vossoroca, entre Joinville e Curitiba. A solenidade contou com a presença dos governadores do Paraná, Bento Munhoz da Rocha; e de Santa Catarina, Irineu Bornhausen, além de Lauro Carneiro de Loyola e comitivas de empresários da Acij e do Paraná, e a imprensa. As fotos que ilustram essa matéria foram feitas por Kurt Gern, empresário participante da Acij que integrava a comitiva, e também fotógrafo amador, e fazem parte do acervo da família Gern.
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