Jardim Velho por volta de 1920. AHJ

O Jardim Velho e o “Dia de cheirar pescoço”

Criado no final do século 19, o Jardim Lauro Müller logo se consolidou como um espaço para toda a família. Por volta de 1916 ele contava com um coreto, que era ornamentado com palmeiras de leque e jerivás, e cercado por uma sebe de bambus (a princípio, a cerca era de sarrafos de madeira). A descrição, que pode ser observada nas fotos mais antigas, é do memorialista Adolpho Bernardo Schneider, que nasceu em 1906 e morava na rua do Príncipe, na esquina com a rua 9 de Março, bem pertinho do Jardim Velho.

Em seu livro “Memórias II – de um menino de 10 anos”, ele relata que o coreto redondo no centro do jardim foi projetado gratuitamente pelo arquiteto Alberto Kroehne e era usado pelas bandas de música locais para apresentações semanais, às quartas-feiras à noite – para alegria dos jovens que aproveitavam o local para praticar o “footing” . “Muitos namoros tiveram ali o seu início, resultando em casamentos muito felizes”, escreveu Adolpho Bernardo Schneider, que revela o apelido irreverente dado pela juventude da época às quartas-feiras no Jardim Velho: “Dia de cheirar o pescoço”.

Nas suas memórias repletas de saudades, ele registrou a presença de caminhos bem cuidados, que permitiam o acesso a todas as direções, e que tinham bancos para serem usados pela comunidade. Fala também da presença de dois tanques de água, redondos, com cerca de cinco metros de diâmetro e meio metro de profundidade, com um esguicho no meio – ou seja, chafarizes. “Esses tanques eram alimentados com a água do nosso primeiro encanamento, que descia do Boa Vista”, revela. Em outro livro da série “Memórias”, ele conta que estes tanques eram povoados por cascudos.

É claro que esses peixes eram motivo de muitas brincadeiras. Schneider narrou que enquanto os funcionários da Prefeitura cuidavam dos peixes, uma turma de moleques (que ele não revela os nomes) aproveitava as noites para pescar nos tanques. “Pegava – à unha – os cascudos maiores”, comenta, lembrando que os tanques foram esvaziados tempo depois, por determinação da Câmara de Vereadores, para economizar água para a população que aumentava rapidamente.

A pesquisadora Brigitte Brandenburg aponta que os chafarizes dos tanques citados por Schneider foram inaugurados em dezembro de 1901, quando Bernardo Enzmann era diretor da Associação de Melhoramentos ou Embelezamento (e também presidente do Conselho Municipal) e Alberto Kröhne, vice. Na páscoa de 1904 foi inaugurado o Coreto com a presença de duas bandas de música.

A foto que ilustra esse texto mostra o Jardim Velho por volta de 1920. AHJ

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2 comentários em “O Jardim Velho e o “Dia de cheirar pescoço””

  1. Vera Regina Friederichs

    Parabéns. Adoro estas viagens pelo túnel do tempo tão bem descritas que nos sentimos dentro das cenas como se estivéssemos lá. Gratidão. Continue nos brindando com histórias da nossa história.

  2. Maria Aparecida de Souza Coelho.

    Moro em Joinville desde 1994. e adotei essa cidade como minha amada Joinville. Moro aqui no centro. E amo ler e conhecer mais sobre essa Cidade. Obrigada por dividir conosco.

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