Nem a chuva que deixou Santa Catarina em calamidade pública impediu a realização do evento, em 1983
Em julho de 1983, Santa Catarina estava debaixo d'água. Mais de 130 municípios foram afetados pelas chuvas incessantes, a queda de barreiras deixou estradas interditadas e cidades isoladas, quase 200 mil pessoas ficaram desabrigadas e cerca de 50 pessoas morreram. Eram dias de calamidade pública. Em meio à tragédia que assolava o Estado, desafiando o tempo e as dificuldades, nascia o Festival de Dança de Joinville. A primeira edição, no dia 10 de julho de 1983, lotou o salão da Sociedade Harmonia-Lyra, com capacidade para cerca de mil pessoas. Ao todo, 40 grupos (dos quase 70 inscritos inicialmente) e 600 participantes driblaram as dificuldades de acesso e chegaram à cidade para se apresentaram durante os cinco dias que durou o evento (na imagem principal desta reportagem, a apresentação do Grupo de Danca Noêmia Edelmann).
Este ano, ao chegar à 40ª edição, o Festival dispensa apresentações. Além da mostra competitiva, traz espetáculos profissionais nas noites especiais (abertura e gala) e tem uma extensa programação didática e voltada à comunidade.
Naquele dia 10 de julho de 1983, Joinville também sofria com a chuva incessante. Mas, sabe-se lá como, as águas não tomaram a rua 15 de Novembro. A rua Dr. João Colin, como ocorre até hoje, encheu, mas a Harmonia-Lyra, na rua 15 de Novembro, ali bem perto, não chegou a ser atingida. Quase a metade dos grupos inscritos não conseguiram chegar a Joinville para participar do evento – especialmente os que vinham de Rio do Sul, Blumenau e região do Sul do Estado, os locais mais duramente atingidos pelas enxurradas. Porém, vieram bailarinos de outros Estados, especialmente do Sudeste do País. Mas os que vieram, garantiram a festa e esbanjaram solidariedade. Na época, os prêmios eram em dinheiro. Os vencedores, então, decidiram doar os valores recebidos às vítimas das enchentes.
A configuração desta primeira edição era bem diferente da que vemos hoje. A noite de abertura, por exemplo, só chegou nos anos seguintes. Em 1983, o Festival de Dança os bailarinos subiram ao palco desde o primeiro dia para a competição.
O público foi um capítulo à parte nessa história. A Harmonia-Lyra, um prédio erguido em 1930 e tombado como patrimônio histórico, recebeu a sua lotação máxima: mil pessoas. O público, porém, estava empolgado e vibrava a cada apresentação, deixando preocupado o então presidente da Fundação Cultural de Joinville, Miraci Deretti, que temia pelo prédio histórico. A história foi contada a esta jornalista por Albertina Tuma, em entrevista em 2012.
Albertina Tuma é um nome para ficar gravado na história do Festival de Dança de Joinville. No final de 1982 ela era diretora da Casa da Cultura e Carlos Tafour era diretor da Escola de Dança da Casa da Cultura. Durante o Encontro Nacional de Cerâmica (Enac), às voltas com a agitação cultural que tomava conta do local, ele se animou e propôs que fosse realizado um evento de dança, que estimulasse o setor na cidade. Pronto: era o embrião do que no ano seguinte viria ser o Festival de Dança de Joinville, um evento que há quatro décadas depois é uma das principais marcas da cidade.
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