Ottokar Doerfel, personalidade fundamental na Joinville do século 19

Retrato de Ottokar Doerffel

É impossível falar da história da Colônia Dona Francisca sem citar Ottokar Doerffel. Ele chegou a estas terras em 1854, aos 36 anos, com a esposa Ida Günther, e logo se destacou como um dos grandes líderes locais. Durante mais de 50 anos atuou como tesoureiro e diretor da Colônia, vereador e prefeito, cônsul da Alemanha no Brasil, além  de estar na origem das principais instituições culturais da época, como a nossa Sociedade Harmonia-Lyra, que ainda hoje, 165 anos depois de sua fundação, continua em plena atividade. 

Também fazia pesquisas climáticas e de aclimatação de plantas - e foi o fundador do Kolonie Zeitung, o segundo jornal em alemão da região Sul do País e que circulou por mais de 80 anos. Mas, quem era esse homem e, afinal, o que fez ele sair de sua terra para vir para o Sul do Brasil, uma região ainda sem estrutura, onde tudo estava por fazer? 

Ottokar Doerffel era jurista e foi prefeito de sua cidade natal, Glauchau, na Saxônia. Era um homem de posses, ideias liberais e com vasta cultura – e veio para reconstruir a vida após participar ativamente das revoluções liberais de 1848, na Europa. Por conta de sua atuação política, consta que chegou a ser preso, julgado e até condenado à morte por alta traição. Depois, em um novo julgamento, conseguiu escapar da pena e deixou o país, rumo ao Sul do Brasil. 

Na colônia, fazia parte de um grupo conhecido como “os de 48”, que tinha perfil bem diferente dos demais colonos e, que sem dúvidas, contribuiu muito para o desenvolvimento local. 

O casarão da rua 15

Vista do cadarão de Ottokar Doerffel onde hoje está instalado o Museu de Arte de Joinville

Logo que chegou à Colônia, Doerffel adquiriu um vasto terreno na antiga Mittelweg (atual rua 15 de Novembro), na época afastada do pequeno centro. O terreno tinha frente para a rua 15 de Novembro e ia, aproximadamente, até onde hoje é a Sociedade Palmeiras, depois da rua Max Colin. Nos fundos do terreno, nas proximidades do rio Morro Alto, ele montou logo nos primeiros tempos uma olaria, que funcionou durante cerca de um século. 

No terreno, ele planejou detalhadamente um amplo casarão, que foi concluído em 1864 e onde moraria por mais de 40 anos, até a sua morte. A casa ainda hoje está no local, e abriga o Museu de Arte de Joinville. Ela, provavelmente, é uma das casas mais antigas da área urbana da cidade. 

Esta casa é um capítulo à parte na história de Ottokar Doerffel e da cidade. Na construção da casa de Ottokar Doerffel foi utilizado um reboco feito de cal extraído de conchas. Os tijolos recozidos, refratários, foram importados. Nas paredes estão gravados símbolos da maçonaria – e uma inscrição, que diz: “Na casa e nos corações de todos os tempos – mora a liberdade, a paz e a devoção.”

Outro importante legado de Ottokar Doerffel foi a fundação do Kolonie Zeitung. Além de registrar os acontecimentos locais, o jornal trazia as principais notícias do mundo, as informações oficiais e de interesse público, as ofertas comerciais, as participações sociais e , acredite, até as picuinhas entre vizinhos. 

O número-piloto do Kolonie-Zeitung saiu do prelo em dezembro de 1862. E em 3 janeiro de 1863 era publicada a edição número 1. O jornal trazia muitas informações direcionadas ao agricultor, para ajudá-lo a se aclimatar na região (totalmente diferente da sua terra de origem), além de pesquisas e até questões do direito e legislação do País. 

No final de 1872, após uma série de problemas de saúde, ele vendeu o jornal para o tipógrafo Carl Boehm, que já trabalhava no jornal desde a primeira edição. A família Boehm conduziu o Kolonie até 1942, quando ele parou definitivamente de circular. 

Ottokar Doerffel  morreu em 1906, aos 88 anos. Mas até hoje ele é uma presença marcante da cidade e dá nome a um dos principais acessos a Joinville, via BR-101. Sua casa e seus jardins são abertos ao público, um lugar agradável para passear com a família. E, eu não poderia deixar de lembrar, ele também é patrono da cadeira 30, da Academia Joinvilense de Letras, que pertenceu ao Dr. Carlos Adauto Vieira.

(Foto do alto da página: vista tirada na Rua Mittelweg. Coleção de Thereza Christina Maria -  L. Niemeyer)

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