Anna Maria Harger, uma mulher forte na Educação de Joinville. Austera e reservada, ela criou a Escola Remington Official e o Instituto Bom Jesus, e ainda hoje é uma referência no ensino da cidade
Uma profissional determinada, competente e austera. Esta é a principal imagem da professora Anna Maria Harger, um dos principais nomes da Educação em Joinville ao longo do século 20. Fundadora da Escola Remington Official e do Instituto Bom Jesus, que após a campanha de nacionalização assumiu as dependências da antiga Deutsche Schule e ainda hoje é um dos mais tradicionais centros de ensino da cidade, ela dedicou a vida à Educação e muitas vezes se confrontou com as autoridades da época para defender suas ideias. A postura rígida, porém, ocultava uma outra face: a de pessoa simples, que gostava de cuidar da terra, e era unida aos irmãos e sobrinhos, que estavam sempre do seu lado, tanto nas atividades profissionais, quanto na vida pessoal.
A relação com a educação e com o campo fizeram parte da vida de Anna Maria Harger desde menina. Nascida em 1892 na Colônia de Santa Isabel, na Grande Florianópolis, ela era filha do pastor protestante João Harger, um homem culto, que falava vários idiomas e veio da Alemanha para o Brasil ainda solteiro para educar os filhos do empresário Carl Hoepcke, em Florianópolis.
Em reconhecimento a João Harger, Hoepcke financiou os estudos de Anna Maria Harger em Florianópolis e depois no Rio de Janeiro. Com isso, a jovem que começou a sua formação em casa, com os pais, se formou professora em 1913 na capital catarinense. Depois foi para a Escola Berlitz, especializada em idiomas, no Rio de Janeiro. Lá também se formou em Contabilidade. Com essa qualificação, voltou para Santa Catarina e durante anos lecionou em Blumenau.
Como ou porque veio para Joinville, não se sabe ao certo. Mas chegou sozinha em 1926, quando a cidade comemorava 75 anos de fundação, e abriu a Escola Remington Official, na rua do Príncipe, onde hoje fica o edifício Manchester. De acordo com o livro “A Muitas Vozes”, que conta a história do Colégio Bom Jesus, a escola mantinha os cursos de Contabilidade e Escrituração Mercantil, Cálculo e Correspondência Comercial, Datilografia, Taquigrafia, Português, Francês, Inglês e Alemão.
A escola logo prosperou e em poucos anos a professora ampliava as atividades com a criação da Escola Prática de Comércio do Instituto Bom Jesus. No mesmo livro consta que a escola foi oficializada em 1931 e formou a primeira turma em 1933, mesmo ano em que surgiu o Instituto Bom Jesus Esporte Clube, dedicado à prática esportiva, como futebol, basquete, tênis e regatas. O final dos anos 30 foi um período de tensão na cidade. A tradicional Deutsche Schule foi fechada em 1938, logo depois da assinatura do decreto 88 do governo federal, que estabeleceu a Campanha de Nacionalização do Ensino. A esta altura, Anna Maria Harger e o Instituto Bom Jesus também passavam por problemas devido à campanha, como o fechamento do curso primário e inquéritos contra a escola e os professores. Nesse período, ficou famosa a decisão da professora de escrever uma carta solicitando a reabertura do curso e entregá-la diretamente ao presidente Getúlio Vargas.
Nessa época, um acordo com a comunidade luterana permitiu que a professora assumisse o patrimônio físico da Deutsche Schule, na rua Princesa Isabel, e transferisse para lá, em 1939, o Instituto Bom Jesus, dando continuidade às atividades e possibilitando, tempos depois, a fusão das duas instituições. “Mesmo em meio a todo esse burburinho de acusações e processos, a diretora conseguiu, em 1942, depois de muito tempo, a inspeção federal no edifício reformado da Princesa Isabel, cujo processo se arrastava desde 1939. A partir da inspeção, a escola passou a funcionar com o nome de Colégio Bom Jesus, assumindo definitivamente o prédio da antiga Deutsche Schule e implantando, em seguida, o curso Científico e o de Contabilidade”, consta no livro que conta a história do Bom Jesus.
Nesse meio tempo, Anna Maria Harger chegou a ficar um tempo afastada da direção da escola (que foi assumida pelo Monsenhor Gercino). Depois, no final dos anos 50 também se afastou por um tempo, por motivos de saúde – nesta época, entre 1955 e 1961, a direção ficou a cargo de seu sobrinho, Theodoro Harger Filho. E, mais tarde, em 1964, a mantenedora da escola passou a ser a comunidade evangélica. O papel da professora Anna Maria Harger, porém, foi decisivo na continuidade das atividades, especialmente nos anos mais críticos da Campanha de Nacionalização.
Anna Maria Harger morreu em um sábado, 16 de outubro de 1971, em casa, aos 79 anos, cercada pelos sobrinhos que a acompanharam por toda a vida.
A foto de abertura é do encontro de Anna Harger com o presidente Getúlio Vargas no final dos anos 1930 (Acervo do Arquivo Histórico de Joinville)
(Texto publicado originalmente no ND Joinville)
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