Algumas personalidades foram fundamentais para a Colônia Dona Francisca, desde o início – aliás, antes mesmo do início. Leónce Aubé e Jerônimo Coelho são duas delas. Em 1843, o príncipe de Joinville casou-se com a princesa Dona Francisca de Bragança, irmã de Dom Pedro 1º, que levou o dote de 25 léguas quadradas ao Norte de Santa Catarina. Mas, estas terras precisavam ser demarcadas, não havia ainda uma definição exata de onde ficavam.
Para trabalhar neste objetivo, em 1844 chegou ao Rio de Janeiro o engenheiro francês Leónce Aubé. Ele tinha apenas 28 anos e era amigo de juventude do príncipe de Joinville – estudaram juntos na Escola Politécnica e na Escola de Minas de Paris; depois, Aubé atuou como engenheiro militar.
Ele veio como procurador e representante do príncipe, com a missão de escolher o local e tomar posse das terras dotais, em nome dos proprietários. Ao chegar à região, escolheu a área que ficava do lado direito do rio São Francisco, o atual Canal de Três Barras, e em parte da Baía da Babitonga, uma área pertencente a Comarca de São Francisco do Sul.
A esta altura, já havia um crédito destinado a medição e demarcação destas terras. É nesta parte da história que entra em cena outra grande personalidade destes tempos pré-colônia: o engenheiro Jerônimo Francisco Coelho. Catarinense, nascido em Laguna em 1806, ele foi designado em 1845 para fazer, na prática, a medição e demarcação das terras dotais. Estas 25 léguas abarcavam desde a margem direita do Rio São Francisco, a partir do rio Pirabeiraba, até o rio Itapocu, mais ao Sul.
Para fazer isso, o engenheiro teve que vir ao local. Começou a viagem no final de 1845 e em janeiro de 1846 já estava no rio Cachoeira, próximo ao rio Bucarein, onde fincou o Marco 7 da demarcação. Neste ponto vale abrir parênteses para lembrarmos que a data oficial de fundação de Joinville é 9 de março de 1851, ou seja, cinco anos antes dos primeiros imigrantes chegarem, Jerônimo Coelho já andava pela região.
Uns dias depois, em 8 de janeiro de 1846, conta Carlos Ficker em seu livro “Crônicas de Joinville, Histórias da Colônia Dona Francisca”, Jerônimo Coelho entrou por picada de caçadores que começava no rio Cachoeira e seguia o caminho que hoje é a rua 9 de Março, margeando o ribeirão Mathias, até a altura da atual rua Visconde de Taunay. Na época, o caminho era chamado de “Picada do Jurapé” e a área aberta que já existia ao seu final (onde hoje tem a junção das ruas 9 de Março, Dr João Colin, Visconde de Taunay e JK) era a “Clareira do Jurapé”.
Alguns anos depois, em 1850, Leónce Aubé percorreria o mesmo caminho. Desta vez junto com o primeiro diretor da Colônia Dona Francisca, Hermann Guenther, um funcionário particular, e mais duas famílias de colonos contratados para preparar o local para a chegada dos primeiros imigrantes, prevista para o início de 1851. Na ocasião, eles tiveram apoio do Coronel Antonio Vieira, proprietário de uma grande fazenda onde hoje é o bairro Itaum.
É interessante notar que até hoje, mais de 170 anos depois disso, ainda há descendentes do Coronel Antonio Vieira morando na região. E também do cozinheiro de Aubé, Louis Duvoisin, que posteriormente se fixou anos na região de Pirabeiraba.
Representante do Príncipe e diretor da colônia
Jerônimo Coelho terminou a sua jornada em Santa Catarina em 1846, com o fim da demarcação das terras dotais e assumiu outras missões pelo país. Leónce Aubé, porém, ainda faria parte da história da Colônia Dona Francisca por muitos anos. Ele administrava os bens do príncipe e foi quem assinou o contrato com a Companhia Colonizadora de Hamburgo, que criou a Colônia Dona Francisca, em oito léguas quadradas das áreas dotais.
Como representante do príncipe de Joinville, Aubé participou ativamente dos primeiros anos de implantação da Colônia Dona Francisca e implementou obras determinantes para o lugarejo. Ele começou os trabalhos de abertura da Estrada da Serra – a Estrada Dona Francisca, atual SC-418 –, que se tornou a principal ligação com o Planalto Norte catarinense e alavancou os dois primeiros ciclos econômicos da região, o da erva-mate e o da madeira.
No site da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, há o registro de que ele foi o primeiro a escalar o “Morro da Tromba”, com quase mil metros de altura, em 8 de março de 1854. O motivo não é claro, mas estima-se que fosse para ter uma melhor noção do traçado da futura Estrada da Serra.
Também loteou e comercializou parte da área do Domínio Dona Francisca na margem direita do rio Cachoeira, onde hoje fica o bairro Saguaçu – o limite da Colônia Dona Francisca era o rio. Esses lotes tinham frente mais ampla que os da colônia e, por isso, eram cobiçados pelos colonos, pois o seu aproveitamento era melhor.
Aubé foi diretor da Colônia Dona Francisca entre 1856 e 1860. Muita gente ainda confunde a Colônia Dona Francisca (de 8 léguas quadradas) com o Domínio Dona Francisca (de 25 léguas quadradas e que abrangia a colônia). E isto tem razão de ocorrer, pois em algumas ocasiões a mesma pessoa ocupou o cargo de representante do príncipe e de diretor da colônia, como aconteceu com Aubé em 1856 e anos depois com Frederic Brüstlein.
Ele ainda extrapolou os limites do Domínio Dona Francisca, assumindo como deputado na Assembleia Legislativa Provincial de Santa Catarina, pelo Colégio Eleitoral de São Francisco, em 1858 e 1859.
Quer ver o programete “Nomes de Joinville”, exibido no Jornal do Almoço da NSC? Acesse o link https://globoplay.globo.com/v/11454733/?s=0s
Um agradecimento especial aos jornalistas Hilton Maurente e Rafael Custódio, que idealizaram e possibilitaram a realização deste projeto
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