O casamento online

Dia desses, um amigo estava batendo papo em um grupo de whats quando comunicou que precisava se ausentar, pois tinha um compromisso em poucos minutos. Havia sido convidado para um casamento online – algo do qual eu ainda não tinha ouvido falar. Acho que nem ele.

Em tempos de pandemia, distanciamento social, máscaras no rosto, beijos de cotovelo e, principalmente, medo de chegar perto do outro e se contaminar (ou pior, contaminar os que amamos), um novo tipo de cerimônia apareceu para nos mostrar que até os sacramentos já não são mais como eram antigamente. E que as novidades daqui por diante serão muitas e em todas as áreas.

Louca por doces que sou, na hora pensei: “E os docinhos?” Docinho de festa de casamento é tudo de bom e, me desculpem os noivos, um grande incentivo para me fazer colocar salto alto, vestido de festa e maquiagem. Verdade que é um incentivo apreciado com muita moderação, sob pena de, na festa seguinte, não conseguir mais entrar no tal vestido. Mesmo assim, vale a pena conferir se os bem-casados fazem jus ao nome e como estão os camafeus de nozes. Só para saber se posso recomendar o buffet, claro.

Depois, minha mente maliciosa já vagou por aí. Casamento online tem lua de mel virtual? Meu Deus, estou desatualizada mesmo. Já não sei mais como se fazem essas coisas em tempos de pandemia e isolamento. Espero que do modo antigo, que sempre deu certo e de vez em quando, com sorte (ou nem tanto, dependendo das circunstâncias) e algum treino, ainda rendia umas criaturinhas para animar a vida dos mais velhos. Mas vai saber…

Aldoux Huxley, em seu fantástico “Admirável Mundo Novo”, há quase 90 anos já descrevia uma sociedade em que os bebês eram gerados por inseminação artificial, de forma padronizada, quase como que em uma linha de produção. Não abria mão, porém, do velho e bom sexo – este era destinado só ao prazer da raça humana mais evoluída. Deve ter horrorizado muita gente naqueles dias.

Aqui, em terras tupiniquins e bem longe da ficção científica, Rita Lee, lá no finalzinho da década de 1970, já cantava em prosa em verso que fazia amor por telepatia. Hoje ficaria rica e muito mais famosa se fizesse umas lives ou um curso online ensinando o passo a passo desta atividade tão sonhada quando o distanciamento é real.

Mas voltando ao casamento online do filho do primo do meu amigo – e que eu não fazia a menor ideia de quem era… Para os noivos, a cerimônia era bem presencial, com noiva subindo ao altar vestida de branco, noivo todo embecado esperando emocionado, padre tentando fazer eles lembrarem do verdadeiro motivo de estarem ali e a igreja… bem, aí é que está a diferença. A igreja praticamente vazia. No local, apenas alguns poucos parentes, dispostos metodicamente a cerca de dois metros de distância uns do outros, e com suas respectivas máscaras sociais (não aquelas de florzinha ou do Mickey que a gente usa por aí, no dia a dia).

Os convidados, todos em casa, assistindo pelo computador, sem vestido de festa ou salto alto – e, depois, bem longe da mesa de doces. Meu amigo, por exemplo, assistia a tudo com os olhos marejados de lágrimas (casamento tem que ter choradeira), mas refastelado no sofá da sala e devidamente embrulhado em uma manta bem confortável. Ele não mostrou, mas talvez até estivesse de pijama e com uma taça de vinho escondida para não despertar muita inveja.

Como já disse, novos tempos, novas formas de viver. E a gente tentando se adaptar, se reinventar e seguir em frente.

Tudo válido, tudo bem. Mas nesse caso, ficou uma dúvida: como a noiva vai jogar o buquê? Quem sabe coloca em um App de relacionamento e sorteia entre os amigos (de qualquer gênero) que estejam em busca de um par. Fica a dica para quem aderir a este novo modelo de cerimônia.

Este texto foi publicado originalmente no Portal Fazer Aqui ,
www.fazeraqui.com.br/o-casamento-online/ , em 20 de julho de 2020

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