Bolachas de melado dão sabor ao Natal – Pílulas de Memória

As bolachas de melado ou de mel fazem parte do Natal de muitas famílias do Sul do País. Decoradas com glacê e confeitos coloridos, ou sem cobertura, esses “docinhos secos” (como também são chamados) muitas vezes eram feitos por toda a família em um momento de confraternização que já adiantava o clima de Natal.

Nesse post, recordo uma reportagem que fiz para o jornal Notícias do Dia/Joinville, há alguns anos, a professora de alemão Érica Merkle, doceiras de mão cheia, conta suas memórias de infância e ensina receitas de bolachas para essa época do ano.

Vale conferir e, depois, separar os ingredientes, reunir a criançada e colocar a mão na massa. O gostinho, com certeza, será especial e inesquecível.

Aroma e sabor de Natal – Bolachas feitas em casa perfumam o ambiente e trazem de volta as lembranças dos Natais de antigamente

Os ingredientes são simples, o modo de fazer é fácil. Mas as sensações despertadas pelo cheiro que invade a casa, pela textura do biscoito na boca e pelo gostinho inconfundível são muitas. Feitas e decoradas em casa, com receitas passadas de mãe para filha há gerações, as bolachas de Natal têm o poder de despertar as recordações de dezembros passados, de parentes queridos, de amigos de sempre, da cidade vivida na infância. Lembranças de um tempo que passou, sim, mas que permanece incutido em cada um dos que o viveu e que muitos ainda lembram com saudades.

As bolachas tradicionais levam mel ou melado, são bem fininhas e crocantes, cortadas em formatos natalinos e enfeitadas com glacê branquinho e açúcar colorido. Costumavam ser feitas em grande quantidade, com a participação de vários integrantes da família – inclusive das crianças, que geralmente ficavam encarregadas da decoração final. Mas elas também podem ser delicadamente decoradas com a ajuda de bicos de confeitar e se transformar em lindos e gostosos presentes. Além do mel, podem vir com outros ingredientes, como araruta, manteiga ou coco, compondo tradições e rituais familiares.

Então, separe os ingredientes, os cortadores e as formas, esquente o forno e vamos viajar nas histórias e receitas de Érica Merkle, que aprendeu com a avó, a mãe e as tias a fazer bolachas ainda na infância e até hoje cultiva o hábito de colocar a mão na massa e encantar os filhos, netos e amigos com os aromas e sabores que vêm de outros tempos.

“Desde que eu me entendo por gente”

Se você perguntar para a professora de alemão Erica Merkle quando ela começou a fazer bolachas de melado, ela vai te olhar fixamente com um par de brilhantes olhos azuis, vasculhar a memória e abrir um sorriso. Mas não vai chegar a uma resposta exata. “Desde que me conheço por gente”, tenta definir hoje, aos 70 anos. Nascida em uma família de mulheres que gostam de cozinhar, ela desde menina acompanhava a mãe, a avó e as tias na hora de fazer docinhos secos, Weihstollen ou a gengibirra, uma bebida gaseificada com sabor de gengibre. E foi aprendendo naturalmente, quase sem perceber.

Desde pequena, Érica seguia a mãe Ilsa Kohls, a avó Martha Bramigk e as tias quando elas iam para a cozinha fazer as bolachas de Natal. A produção da família era feita em conjunto, a muitas mãos, e depois compartilhada. Fazer biscoitos e impregnar a casa com o cheiro das especiarias já era o início do clima das festas de fim de ano. “A gente fazia latas e latas, e depois dividia a produção”, recorda.

Essa produção começava duas ou três semanas antes do Natal, pois as bolachas tinham vida curta. Não que a validade fosse pequena. Pelo contrário. Biscoitos de bolacha parecem que ficam mais gostosos à medida que o tempo passa, pois precisam de um tempo de descanso para que o sabor seja aprimorado. O problema era mantê-los longe das mãozinhas da criançada, que devorava tudo com vontade. “Fazíamos duas ou três semanas antes do Natal porque senão a gente comia tudo. Roubávamos da lata”, brinca Érica, relembrando as travessuras da infância.

Fazíamos duas ou três semanas antes do Natal porque senão a gente comia tudo. Roubávamos da lata.

Ela conta que o Natal era época de cozinhar. O avô materno, Adolfo Bramigk, era marceneiro e neste período montava uma mesa grande na oficina para que a esposa, as filhas e os netos fizessem os biscoitos que, como era comum naqueles tempos, eram assados em forno à lenha. O trabalho era dividido. As mulheres faziam a massa, as crianças ajudavam a cortar em formatos natalinos e a avó os assava no forno à lenha. “Esse era o procedimento dela”, recorda Érica, que nessa época tinha sete, oito anos. Bem mais novas, suas irmãs não pegaram essa fase na oficina do avô – mas continuaram a tradição tempos depois, na cozinha da mãe, Ilsa.

Quando estava tudo assado, era a hora de pintar os docinhos – o que podia ocorrer no mesmo dia, ou não. Para isso, a mãe ou a avó faziam uma grande tigela de suspiro, com clara de ovo e açúcar. E deixava nas mãos da criançada, que se divertia para valer. “As crianças faziam a parte da pintura. A gente adorava fazer aquilo”, diverte-se ao lembrar.

Para facilitar a ornamentação, Martha fazia pincéis rudimentares com palha de milho ou pequenas “buchas” com papel. Mas quem disse que a criançada tinha paciência para usar os utensílios na decoração? “Como demorava muito, a gente ia com o dedo mesmo. E era mais lamber o dedo do que passar nas bolachas”, revela a professora de alemão. O toque final era dado com açúcar cristal.

Com a brincadeira, as crianças eram envolvidas nas atividades familiares, se divertiam e aprendiam. Assim, Érica começou a cozinhar. Depois foi desenvolvendo suas próprias receitas, com as dicas da mãe e da avó. “Minha mãe deixava a gente fazer. Mesmo quando a gente errava, ela incentivava”. Com isso, hoje cada uma das irmãs faz os doces em suas casas e a filha, Cláudia Merkle, deu um passo além, criando uma confeitaria artesanal, a “Fuxico Doce”. Nas mãos de Cláudia, as tradicionais bolachas de Natal ganharam uma roupagem nova, com cores vivas e um ar contemporâneo. Mas mantendo o encanto desta época do ano.

Quer fazer? Confira a receita de Erica Merkle:

Bolacha de Natal com melado
1 kg de farinha de trigo
½ kg de melado
3 colheres (sopa) de manteiga
2 colheres (sopa) de banha)
¼ kg de açúcar
4 ovos
15 gramas de bicarbonato de amônia
Condimento pronto para bolacha

Modo de fazer:
Bata os quatro ovos, misture com o melado e a manteiga;
Junte, aos poucos, a farinha de trigo;
Amasse bem com as mãos e adicione os condimentos;
Depois de 10 minutos, adicione o bicarbonato e amasse novamente, muito bem;
Coloque a massa em uma bacia plástica, tampe e deixe descansar por 12 horas na geladeira. “Quando ela descansa, estica com mais facilidade” – explica Érika.
Depois desse período, volte a amassar;
Abra a massa com o rolo de macarrão, com a ajuda de um plástico grosso, até ficar bem fininha;
Corte com forminhas em formato natalino;
Leve ao forno brando

Glacê para decorar:
Para cada clara, colocar três colheres (sopa) de açúcar e umas gotas de limão. Bater bem, passar nos biscoitos e decorar com açúcar colorido.

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